Rede estadual

Depois de 63 anos, Escola Padre Anchieta fecha as portas

Os cerca de 140 estudantes já começaram, inclusive, a ser remanejados

Paulo Rossi -

As mobilizações desencadeadas no final do ano passado não surtiram efeito e a Escola Estadual Padre Anchieta irá fechar as portas. Os cerca de 140 alunos já começaram, inclusive, a ser remanejados. Com a decisão do Governo do Estado, encerra-se um ciclo de 63 anos de história. 63 anos de parceria com o Instituto de Menores, no bairro Areal, onde sempre funcionou.

Nos próximos dias, a direção do Cpers-Sindicato deve concluir balanço sobre o número de instituições que irão interromper atividades no Rio Grande do Sul em 2018 e quantas turmas e turnos também estão sob risco. A expectativa é de que o levantamento na área de abrangência do 24º Núcleo esteja concluído na quarta-feira. "Sabemos que este governo trabalha com a política de enxugamento do Estado, mas vamos nos articular, também via Ministério Público, para garantir o funcionamento das escolas", reitera o diretor Mauro Amaral.

Nas salas e corredores, um vazio
O ano letivo de 2017 só se encerra em 21 de março. O silêncio, entretanto, já retumba em salas e corredores que ainda guardam desenhos, decorações e letras coloridas. Nos últimos dias, a diretora Rosselane Alves de Souza dedica-se em definir - junto à Central de Matrículas - vagas para os estudantes. A grande maioria será transferida para as escolas Areal, Professora Lélia Olmos e Parque do Obelisco.

Um misto de tristeza e insegurança. Quem conta é Andrea Dutra, 46, que viveu duas alegrias na Padre Anchieta: viu a filha Tainá, 15, concluir o Ensino Fundamental e o filho Leonardo, 12, sentir-se acolhido. "Na escola de onde viemos, ele apanhava dos outros meninos. Aqui se adaptou super bem. Acho que não vai ter outra igual".

Para a professora Fátima Beatriz dos Santos da Silva difícil imaginar a rotina em outro cenário. Na carreira inteira teve os pés fincados por ali, entre provas, trabalhos e projetos de várias disciplinas: Ensino Religioso, Geografia e História. E assim viu correrem 29 anos de trabalho. "O clima é de tristeza e de lamúria", resume, enquanto aguarda a definição da instituição onde irá atuar daqui para frente.

Relembre
Em outubro do ano passado, professores, funcionários, pais e alunos foram às ruas, por mais de uma vez, clamar pela manutenção das atividades. Perdidos entre versões desencontradas do que ocorreria a partir de 2018, crescia a angústia. Os promotores regional da Educação, Paulo Charqueiro, e da Infância e Juventude, Luciara da Silveira chegaram a visitar a Escola Padre Anchieta para conhecer, de perto, as condições estruturais do imóvel.

A posição da 5ª CRE 
O titular da 5ª Coordenadoria Regional de Educação, Carlos Humberto Vieira, assegura que nenhuma outra escola da Zona Sul será fechada. Mesmo aquelas com número reduzido de alunos, no interior de cidades, como Piratini e Jaguarão. "A situação foi inevitável no caso da Padre Anchieta. A Mitra tomou a decisão de não alugar mais e não conseguimos reverter", argumenta.

Sem prédio à disposição nas redondezas com características para abrigar instituição de ensino - e atender às exigências do Conselho Estadual de Educação - e com vagas de sobra em outras escolas nas imediações, a interrupção das atividades teria sido inevitável. Vieira voltou a bater forte, todavia, que o número de escolas e de professores na rede estadual seria maior do que a demanda atual.

O que diz a Mitra Diocesana
O gestor da Mitra, padre Marcus Bicalho, também recorreu à sobra de vagas na rede estadual de ensino para ajudar a explicar a decisão de solicitar o prédio à 5ª CRE. "O espaço não era mais necessário ao Estado, que tem outros locais mais bem aparelhados", destaca. E reforça: "A Coordenadoria não tinha interesse ou verba para reformar o prédio, em condições precárias".

O projeto para o futuro, conta o padre, aponta à busca por parceiros para realizar a recuperação do imóvel, tão logo a Padre Anchieta deixe as instalações. O objetivo é bem claro: ampliar o trabalho desenvolvido com crianças e jovens em turno inverso. A perspectiva é de acolher em torno de 200 estudantes, ainda no primeiro semestre de 2018.

"Sabemos que todo mundo é contra as nossas crianças e jovens estarem envolvidos com droga, tráfico e prostituição. Queremos que nos ajudem a tirá-los das ruas", reitera Bicalho. E aposta nas oficinas realizadas no contraturno para acolher a gurizada, em um número cada vez maior. Em 2017, 122 alunos - de diferentes instituições - participaram do trabalho.

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